Hoje
já não vemos com frequência as procissões de retirantes da seca
em busca de sonhos alimentares e de esperanças para viver. É bem
verdade que os projetos assistencialistas governamentais tem mudado
muito a face da fome no nosso país. Entretanto, ainda existem muitas
pessoas sofrendo as agruras da vida hierárquica e agora ampliadas
com mais uma estiagem nordestina.
Sofredores,
os retirantes alimentam seus sonhos na esperança de vida melhor
quando o inverno chegar. É um mundão de esperanças e farturas,
mesmo eles sabendo que boa parte de sua produção está destinada
aos mercadores locais que “emprestam” as sementes para receber em
dobro na colheita final. O raquitismo de esperanças tornou-se
crônico na lide honrada do homem do campo. Aquele que certamente
sofre fome e sede, mas que alimenta a adiposidade dos sertanistas
exploradores.
A
realidade cearense na crise da seca existente, tem aumentado ainda
mais o sofrimento dos trabalhadores rurais, o que me faz lembrar aqui
dos “homens gabirus” nordestinos, relatados pelo grande mestre
Josué de Castro. Não venha dizer que o homem não quer mais
trabalhar, isso não é verdade. O que este homem não aceita mais,
são as migalhas a ele destinadas por longas horas de trabalho em
benefício daquele senhor que certamente já teve suas dívidas
bancárias reduzidas através de projetos políticos e parciais, sem
o verdadeiro cuidado com o trabalhador.
Com
a fome e a sede as pessoas agonizam nos torrões cearenses. E a
falta D'Água, vem sendo suprida precariamente com uns poucos litros
diários de “bosta shake”, ou seja, o tal líquido servido aos
cearense sofredores da seca, nada mais é, que uma mistura de água
com coliformes fecais.
Enquanto
a desesperança alimenta os sonhos das barrigas famintas, os
banquetes estão sendo servidos no palácio governamental, como
exibicionismo de fartura. Isso sim é fortalecer a hierarquia do
capital em benefício de prestígio social, alimentando as gordas
doações para as próximas eleições dos senhores produtores da
pobreza, como capital eleitoral.
“Vi
ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando
achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O
bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
Não era um gato,
Não era um rato.
O
bicho, meu Deus, era um homem”.
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