quinta-feira, 15 de agosto de 2013

O “Bosta Shake”, Promotor de Doenças Sociais


       Hoje já não vemos com frequência as procissões de retirantes da seca em busca de sonhos alimentares e de esperanças para viver. É bem verdade que os projetos assistencialistas governamentais tem mudado muito a face da fome no nosso país. Entretanto, ainda existem muitas pessoas sofrendo as agruras da vida hierárquica e agora ampliadas com mais uma estiagem nordestina.

        Sofredores, os retirantes alimentam seus sonhos na esperança de vida melhor quando o inverno chegar. É um mundão de esperanças e farturas, mesmo eles sabendo que boa parte de sua produção está destinada aos mercadores locais que “emprestam” as sementes para receber em dobro na colheita final. O raquitismo de esperanças tornou-se crônico na lide honrada do homem do campo. Aquele que certamente sofre fome e sede, mas que alimenta a adiposidade dos sertanistas exploradores.

        A realidade cearense na crise da seca existente, tem aumentado ainda mais o sofrimento dos trabalhadores rurais, o que me faz lembrar aqui dos “homens gabirus” nordestinos, relatados pelo grande mestre Josué de Castro. Não venha dizer que o homem não quer mais trabalhar, isso não é verdade. O que este homem não aceita mais, são as migalhas a ele destinadas por longas horas de trabalho em benefício daquele senhor que certamente já teve suas dívidas bancárias reduzidas através de projetos políticos e parciais, sem o verdadeiro cuidado com o trabalhador.

        Com a fome e a sede as pessoas agonizam nos torrões cearenses. E a falta D'Água, vem sendo suprida precariamente com uns poucos litros diários de “bosta shake”, ou seja, o tal líquido servido aos cearense sofredores da seca, nada mais é, que uma mistura de água com coliformes fecais.

        Enquanto a desesperança alimenta os sonhos das barrigas famintas, os banquetes estão sendo servidos no palácio governamental, como exibicionismo de fartura. Isso sim é fortalecer a hierarquia do capital em benefício de prestígio social, alimentando as gordas doações para as próximas eleições dos senhores produtores da pobreza, como capital eleitoral.


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem”.

O Bicho de Manuel Bandeira



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