“Ao
declarar que todo conhecimento começa com a experiência, mas que
nem todo ele se origina dela, Kant quis significar que a matéria do
conhecimento provem da sensação”, mas a forma do conhecimento
provem do intelecto. A forma “aquilo que faz com que o múltiplo do
fenômeno possa ser ordenado em certas relações” tem que existir
“toda à disposição a priori na mente e poder ser isso
considerada separadamente de toda sensação”. (nº 34). No
desenvolvimento de sua análise, Kant chega à conclusão de que
existem duas formas puras de sensibilidade: as intuições puras de
espaço e tempo.
As
afirmações Kantianas, conclui que o espaço não é um conceito,
pois que não elaborado pelo sujeito a partir de suas experiências,
mas é uma intuição, quer dizer, simplesmente existe no sujeito,
que se descobre possuidores desta característica quando, ao conhecer
os objetos do mundo, o faz de um modo dimensionado. Considerando que
a dimensionalidade é condição para o conhecimento dos objetos e já
que através da experiência percebemos de imediato as manifestações
dos objetos, não havendo uma percepção prévia do espaço,
segue-se que esta noção não é empírica, mas independe da
experiência. Portanto, a noção de espaço já existe no sujeito,
anteriormente à experiência: é pura.
O mesmo
diz Kant em relação ao tempo: não é um conceito, mas uma intuição
pura. A noção de tempo está associada à ideia de movimento, de
mudança, de evolução. Também neste aspecto, quando a experiência
nos fornece a percepção de um objeto em movimento ou em evolução,
ou até mesmo objeto em locais ou estágios diferentes não é
antecedida de qualquer ato preparatório. No entanto, em nossa mente,
compreendemos facilmente os conceitos de movimento, de sucessividade,
de transformação. Ora, se nos é possível compreender a mudança
como algo dos objetos e se isso antecede a nossa experiência
imediata, conclui-se que a noção de tempo também não é empírica,
mas pura.
Espaço,
portanto, diz respeito à ideia de localização, e tempo diz
respeito à ideia de sucessão. Os objetos do mundo se nos apresentam
dimensionados em sucessividade. Mas o espaço e o tempo não existem
no mundo, ou seja, não tem subsistência por si mesmo nem aderem às
coisas como determinações objetivas. Daí conclui-se que espaço e
tempo têm lugar unicamente no aparelho mental do sujeito
cognoscente, isto é, são formas próprias da subjetividade humana,
através das quais o sujeito atua no processo geral do conhecimento.
E, se não derivam da experiência, são formas puras ou a priori de
sensibilidade.
Com
isso, fica corroborada a tese de Kant, segundo a qual o nosso
conhecimento não provém totalmente do mundo, havendo uma
participação ativa do sujeito neste processo. A despeito do caráter
metafísico, a-histórico da subjetividade Kantiana, contudo
representou grande novidade no contexto da época, retirando o
sujeito do papel de mero expectador e receptor da mensagem do mundo.
Immanuel Kant
- Crítica da Razão Pura, (Os Pensadores), Editora: Nova
Cultural - 1991
Você ainda mantém o blog?
ResponderExcluirGostei muito dessa pequena aula Kantiana.