quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Kant e as Formas Puras da Sensibilidade ou Intuições Puras


“Ao declarar que todo conhecimento começa com a experiência, mas que nem todo ele se origina dela, Kant quis significar que a matéria do conhecimento provem da sensação”, mas a forma do conhecimento provem do intelecto. A forma “aquilo que faz com que o múltiplo do fenômeno possa ser ordenado em certas relações” tem que existir “toda à disposição a priori na mente e poder ser isso considerada separadamente de toda sensação”. (nº 34). No desenvolvimento de sua análise, Kant chega à conclusão de que existem duas formas puras de sensibilidade: as intuições puras de espaço e tempo.
As afirmações Kantianas, conclui que o espaço não é um conceito, pois que não elaborado pelo sujeito a partir de suas experiências, mas é uma intuição, quer dizer, simplesmente existe no sujeito, que se descobre possuidores desta característica quando, ao conhecer os objetos do mundo, o faz de um modo dimensionado. Considerando que a dimensionalidade é condição para o conhecimento dos objetos e já que através da experiência percebemos de imediato as manifestações dos objetos, não havendo uma percepção prévia do espaço, segue-se que esta noção não é empírica, mas independe da experiência. Portanto, a noção de espaço já existe no sujeito, anteriormente à experiência: é pura.
O mesmo diz Kant em relação ao tempo: não é um conceito, mas uma intuição pura. A noção de tempo está associada à ideia de movimento, de mudança, de evolução. Também neste aspecto, quando a experiência nos fornece a percepção de um objeto em movimento ou em evolução, ou até mesmo objeto em locais ou estágios diferentes não é antecedida de qualquer ato preparatório. No entanto, em nossa mente, compreendemos facilmente os conceitos de movimento, de sucessividade, de transformação. Ora, se nos é possível compreender a mudança como algo dos objetos e se isso antecede a nossa experiência imediata, conclui-se que a noção de tempo também não é empírica, mas pura.
Espaço, portanto, diz respeito à ideia de localização, e tempo diz respeito à ideia de sucessão. Os objetos do mundo se nos apresentam dimensionados em sucessividade. Mas o espaço e o tempo não existem no mundo, ou seja, não tem subsistência por si mesmo nem aderem às coisas como determinações objetivas. Daí conclui-se que espaço e tempo têm lugar unicamente no aparelho mental do sujeito cognoscente, isto é, são formas próprias da subjetividade humana, através das quais o sujeito atua no processo geral do conhecimento. E, se não derivam da experiência, são formas puras ou a priori de sensibilidade.
Com isso, fica corroborada a tese de Kant, segundo a qual o nosso conhecimento não provém totalmente do mundo, havendo uma participação ativa do sujeito neste processo. A despeito do caráter metafísico, a-histórico da subjetividade Kantiana, contudo representou grande novidade no contexto da época, retirando o sujeito do papel de mero expectador e receptor da mensagem do mundo.

 
Immanuel Kant - Crítica da Razão Pura, (Os Pensadores), Editora: Nova Cultural - 1991

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