domingo, 25 de julho de 2010

ÁFRICA MÃE-PRETA

A história da África e seus habitantes, especialmente os que foram trazidos para o Brasil como escravos e seus descendentes, ou seja, todos nós, transformou-se, ainda que tardiamente, em componente curricular obrigatório. Talvez não a obrigatoriedade, mas o privilégio de saber sobre o continente africano devesse nos impulsionar a descobrir mais sobre uma terra tão íntima e ao mesmo tempo estranha, próxima e distanciada
Infelizmente quando se fala em África, as pessoas logo imaginam uma selva repleta de leões, hipopótamos, elefantes e tarzans, ou então homens “vestindo tanguinhas” ávidos por carne humana. Dificilmente o Ocidente consegue enxergar a África fora desse estereótipo. No entanto, as coisas não são bem assim: o continente africano possui uma história vastíssima, extremamente complexa e de fundamental importância para a humanidade. Pena que são poucos os que conseguem transpor as “barreiras do ocidentalismo”, buscando compreender a África dentro das suas particularidades.
É importante que compreendamos que a África comporta uma quantidade étnica enorme, ou seja, o fato da sua população ser majoritariamente negra não a torna homogênea no que diz respeito à cultura, línguas, costumes etc. Não podemos nos esquecer de que a África é um continente, e não um país ou uma nação. Ressaltando também que estamos lidando com valores que fogem dos padrões ocidentais aos quais estamos acostumados. É muito importante que ponhamos nossos preconceitos de lado se quisermos compreender um pouco sobre esse continente.
No Brasil, como nos demais países do terceiro Mundo, o preconceito contra o negro vem sendo aprofundado em nossa experiência histórica, por conta da escravidão.
Forjando-se um conceito de raças humanas pressupondo uma hierarquia em cujo topo estava, evidentemente, o branco e na base estariam os povos africanos e outros de pele escura. Eram vistos como “incapazes”, “preguiçosos”, “atrasados”, “selvagens”, e acreditava-se que só poderiam ser salvos pela ação da colonização européia.
Neste contexto ao estampar o africano incapaz e atrasado revela o branco superior e desenvolvido, construindo-se também paralelamente estereótipos onde se tece uma outra forma de cativeiro: a escravidão simbólica que irá castigar incansavelmente a auto-estima dos afro-descendentes
Uma das grandes ironias nacionais é o fato de os afro-descendentes serem discriminados como uma “minoria” quando, na verdade, constituem um grupo cujo número atinge quase ou mais da metade da população brasileira.
O Brasil cultivou, com sucesso, uma imagem de si mesmo como a primeira “democracia racial” do mundo, sendo a convivência entre os brancos e negros descrita como harmoniosa e igualitária. Essa concepção, tornada discurso oficial, é, na verdade, um mito, hoje questionado pelos brasileiros.
O Brasil difere de outros lugares, como o sul dos Estados Unidos e a África do sul, onde a discriminação foi prescrita por lei. No Brasil, entretanto, o mito da democracia racial encobre o preconceito e torna muito mais difícil o combate efetivo da injustiça para com indivíduos e grupos etno-raciais diversos do branco-europeu.
Estudar o continente africano nos ajuda a corrigir as referências equivocadas que carregamos sobre os africanos. Entender a maneira como este negro aqui chegou e como foi tratado, possibilita que compreendamos a sua participação na construção da sociedade brasileira. No que se refere ao Ceará, nos possibilitará conhecer a contribuição negra em nossa cultura e desmistificar esta falsa idéia de que no “Ceará não tem negros”.
É importante observar o papel do negro na colonização do Ceará, como nos mostra Ribard: “seguindo os fluxos migratórios vindo das províncias do Pernambuco e da Bahia, numerosos negros livres entraram no Ceará a partir da região do Cariri. Este fato desencadeou uma tendência geral e característica da participação do negro na sociedade cearense até a abolição, contradizendo a visão hegemônica descrita que associa negro a escravo: a larga predominância do número de negros livres em relação aos escravos”.
E ao que se refere ao desaparecimento dos escravos no Ceará, Ribard afirma que: “no que concerne ao desaparecimento dos escravos no Ceará, certamente a seca de 1977/79, e a conseqüente venda, para o sul cafeeiro do País, dos escravos por parte dos proprietários do interior do Estado, aparece como um fator determinante, inclusive em relação ao número de escravos libertado quando da abolição”.

Desta forma nos ajuda a compreender melhor a participação do negro em nossa cultura e compreender que é brasileira a identidade do congado. Os irmãos do rosário estão vivos e sua identidade é dinâmica, mesmo quando pretendem conservar suas tradições, sabedorias e organização. O congado e a “irmandade Rosário dos Homens Pretos” são fruto de muita criatividade desde o princípio. Esta criatividade é de beleza e fé, mas principalmente de necessidade e sobrevivência.
Hoje a Lei 10.369 torna obrigatório o ensino de conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira, tanto no ensino Fundamental como no Ensino Médio.
Esta determinação procura minimizar os danos causados pelo preconceito racial há muito arraigado em nossa sociedade no que se refere aos afro-descendentes, bem como busca o resgate da identidade e da cultura dos negros africanos. Nada melhor do que começar pela escola, local onde as crianças aprendem as regras e os valores sociais.
O preconceito racial se mostra na escola não apenas pelas expressões racistas entre alunos ou entre professores e alunos, mas também pela omissão e pelo silêncio quando essas situações ocorrem.
Precisamos conhecer a história da África e reconhecer a conexão que há entre o passado dos povos que aqui chegaram através das mãos dos colonizadores e que aqui não só empregaram sua mão-de-obra escrava, como também trouxeram seus costumes, seu modo de vida, sua cultura. A partir daí então quando percebermos que quanto mais procurarmos conhecer o passado daqueles que nos formaram, suas contribuições culturais, melhor conheceremos a nós mesmos e o nosso presente. 



Fonte: http://www.virtual.ufc.br/humanas/fasciculo1.aspx   
 http://www.vdl.ufc.br/humanas/Data/Sites/1/%C3%81frica%20M%C3%A3e%20Preta%20FINAL.pdf

 

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