O Poeta Ivan Melo relata um sonho que muitas pessoas na sua pré-adolescência vivenciaram, mas que infelizmente calaram diante de tamanha timidez.
Lá pelos meus doze anos, eu conhecia o carnaval somente pelas festas da escola. Aqueles bailinhos com fantasias meio infantis. Tocavam as marchinhas que, mesmo numa época tão remota, já eram antigas. Eu adorava aquelas canções, principalmente as mais românticas. Menino tímido, não me engajava tanto em pular, correr ou jogar confetes nos amigos. Nem dançava. Ficava a um canto, pensativo, a ouvir as músicas. Muitas delas me comoviam.
Eu era apenas uma criança, e ficava ali no meio da festa, alegre ou triste pelo que ouvia naquelas letras melodiosas. Eu ouvia os refrões e me entristecia, solidário com o Arlequim que chorava “no meio da multidão”. Ficava entristecido pela"Camélia que caiu do galho, deu dois gritinhos e depois morreu”. Sentia dó pela Jardineira também triste e ficava imaginando como teriam sido os dois gritos da Camélia. Eu até vertia lágrimas por ela e nem sequer sabia o que era um arlequim, um pierrot nem colombina. Nada conhecia sobre o amor, mas me comovia pensando quão especial seria a colombina para fazer o pierrot e o Arlequim chorarem tristes pelo seu amor. Como disse, eu nada sabia do amor, ainda assim apaixonei-me de uma paixão pura e arrebatadora, talvez eterna, por ela, pela misteriosa Colombina. Era por ela que eu esperava todos os anos, quando se iniciavam os festejos do carnaval. Por ela eu chorava de tristeza , escondido na multidão.
Muito tempo se passou e muita coisa mudou. As músicas de carnaval, os temas e as musas que as inspiram. Hoje, em meio às danças coreografadas – seja da tartaruga, da manivela, do vampiro, etc – , em meio a lepo lepo ou a lapadas na rachada, diante das novas imagens que povoam o universo carnavalesco – um arsenal sem limites de seios e bumbuns rijos e volumosos expostos no salão. Garanto que naquela época não passavam em minha mente tais atributos em minha colombina. Hoje, ainda procuro na multidão o pierrot apaixonado, a jardineira triste, o Arlequim choroso e principalmente a columbina, personagens que tanto encantaram meu imaginário quando menino de doze anos. Este, bem como aquele arlequim, ainda existem e continuam vivos em algum lugar, recônditos, dentro de mim.
Crédito Foto: Ivan Melo.
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